Eu estava diante de uma família que chorava, há 2 meses, a morte de um filho. O jovem morto esteve no barco que naufragou no Lago Paranoá, no dia 22 de maio. Trabalhava como garçom, há 2 anos, no buffet que promovia a festa daquela noite e juntava dinheiro pra comprar a casa própria. Lá estavam pai, filho e 2 irmãos diante da embarcação encalhada na beira do lago. Como foi duro pra mim entrevistar essa família! Enquanto conversávamos, percebi como era sofrido pra eles estarem ali. Eu tive a coragem, ou cara de pau, ou frieza, de pedir que entrassem no barco. Enquanto conversávamos, disse a todos, mais de uma vez, como estava difícil pra mim ter que tocar num assunto tão doloroso.
Para o pai, muito gentil, era importante falar pra que as pessoas não esquecessem o caso - que ainda não apontou culpados. Somente o pai do rapaz e o filho órfão, de 9 anos, gravaram. Um dos irmãos da vítima nem sequer subiu no barco. Nem a voz dele eu ouvi. Apenas olhava. Ficava agachado perto do motor do barco e olhava. Ai que dor. Eles foram fortes.
O pai só se emocionou quando perguntei pra ele como foi entrar na embarcação. Ele disse que foi um pesadelo e que via o filho por toda a parte. O pequeno disse que costumava jogar futebol e video game com o pai. Perguntei quem fazia isso com ele agora e ele disse que ninguém. Foi o fim pra mim. Encerramos ali a entrevista. Deixei-os à vontade dizendo que poderiam ir, se preferissem, porque ainda íamos fazer mais algumas imagens. Mais uma vez, pedi desculpas pela situação. Quando eles saíram, não me controlei. Soluçava. Não acreditava que tive que fazer aquilo e "montar" toda aquela cena. Que gente forte e corajosa ir falar assim com a imprensa. E que função cruel a minha. Só fazia chorar e pensar em tamanha dor que sentiam.
Depois de vários minutos, não sei como, gravei a passagem - quando o repórter aparece. Esse VT ficou com 3 minutos e meio, mas tiveram que cortar 1 min por conta do tempo do jornal. Por isso, provelmente a versão que foi ao ar talvez não tenha passado tanta emoção assim.
Se pudesse, escolheria nunca mais passar por algo parecido. Mas essa profissão não me permite isso. Não sei se desejo ser mais forte, se desejo ser mais fria, se esse choro é sinal de pouco profissionalismo. Sei que doeu.