"Um ex-detento americano que virou atleta e se graduou na cadeia provou
inocência. Ele veio ao Brasil para contar sua história que virou exemplo
para o mundo todo."
Nosso VT
http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/53792/Ex-detento-prova-inocencia.html#.VaAhX7XZwdU
Facebook de Bozella
Trailer do documentário ESPN
Mais da história:
Preso por mais de 20 anos nos EUA consegue provar sua inocência
Em 1983, Dewey Bozella, 55, foi condenado a 20 anos de prisão por um crime que alegava não ter cometido -o assassinato de Emma Crapser, em 1977.
Preso, fez graduação e mestrado, virou campeão de boxe da cadeia e se casou. Recusou acordo que lhe daria liberdade se confessasse e foi libertado em 2009, quando a Justiça concluiu que ele havia sido condenado injustamente. Bozella está no Brasil para a Conferência Integrada ICCyber ICMedia 2015, sobre ciências forenses e segurança cibernética.
Numa noite de 1977, por volta das 23h, uma senhora de 92 anos chamada Emma Crapser chegou em casa. Lá tinha um ladrão. Ela levou uma pancada na cabeça, foi espancada e amarrada com um fio, um cabo elétrico. Depois foi sufocada -com panos que enfiaram na sua boca com uma chave de fenda- e finalmente morta.
Fui acusado por esse assassinato e condenado a pelo menos 20 anos de prisão, podendo chegar a prisão perpétua. Quando completei 20 anos de cadeia [em 2003], tive direito a fazer pedidos de liberdade condicional. Como todos foram negados, a Justiça acrescentou dois anos para cada um dos quatro pedidos que fiz o pedido.
De 1977 [quando fui preso pela primeira vez durante alguns meses] a 2009, quando fui solto, tentei provar que era inocente. No final, fui salvo pela mesma pessoa que me prendeu.
Nasci no Brooklyn em 1959. Quando tinha quase nove anos, vi meu pai espancando minha mãe. Aquela foi a última vez que a vi [ela morreu em decorrência ao espancamento]. Perdoei muita gente [inclusive um de meus "carrascos"], mas meu pai, não sei se conseguiria. Sem ele, minha vida poderia ter sido outra. Eu saberia o que é ser criado por uma mãe.
[Por isso] Vivi sob os cuidados da assistência social. Por um tempo, minha vida foi normal. Eu vivi com uma família no Queens [em Nova York]. Depois, comecei a ficar muito na rua. Cometia pequenos crimes e fui para a cadeia por eles, mas por pouco tempo.
CONDENAÇÃO
[Para me condenar] Os promotores fizeram acordo de delação premiada com dois caras presos por outros crimes. Eles disseram que eu havia matado a velhinha, e fui condenado em 1983. Foram 26 anos até ser solto. Dor, mágoa, raiva, frustração. Foi isso que senti no julgamento. Havia outros suspeitos. Durante a investigação, a polícia achou as digitais de outra pessoa, Donald Wise. Depois, ele foi condenado por outro crime. Ainda assim, foram atrás de mim.
Na prisão, adotei uma postura defensiva porque a coisa lá era braba. Me fazia de durão, não deixava as pessoas se aproximarem. Malhava o tempo todo. Até que, em 1984, entrei para um time de boxe da cadeia.
O boxe virou minha moral. Foi meu jeito de fazer minha vida um pouco melhor numa situação horrível. Me ajudou a me responsabilizar pelas coisas que tinham acontecido comigo. [Afinal] Eu mesmo fui culpado, por ter dado bobeira, ter ficado na rua.
DISCIPLINA DO BOXE
O boxe me deu também disciplina para estudar. Fiz a prova do diploma escolar e passei. Estudava muito, fazia todos os cursos que havia. Me formei em ciências e fiz mestrado em teologia.
Na prisão, conheci minha mulher, Treena, em 1995, que visitava o irmão, também preso. Fui direto: "fui condenado por um crime que não cometi. Estou procurando uma uma namorada". Ela me olhou como se eu fosse maluco.
Poderia ter ganho a liberdade em 1990. Me ofereceram um acordo: se confessasse o crime, poderia sair.
Decidi não aceitar e não me arrependo. Não conseguiria olhar as pessoas nos olhos. Quem me daria emprego? Tinha vários certificados profissionais, e poderia ter sido lutador. Mas pelas costas diriam: "você assassinou uma velhinha".
Comecei a escrever para o Projeto Inocência [grupo de advogados que investiga condenações errôneas] a partir de 2001. Seis anos depois, um escritório aceitou meu caso. Mas, após quatro pedidos de liberdade condicional negados, em 2008 o pessoal disse que as provas materiais do meu caso haviam sido destruídas. Não havia mais o que fazer.
PROVAS DA INOCÊNCIA
Um instinto me fez sugerir que eles procurassem o policial que havia me prendido em 1977. Descobrimos que ele, já aposentado, guardara o arquivo do meu caso, contra as regras da polícia. Nesse arquivo havia quatro testemunhos me inocentando. Os advogados depois acharam outras provas que indicavam que outra pessoa tinha cometido o crime.
Em 28 de outubro de 2009, fui inocentado. O juiz disse que estava convencido, sem reservas, da minha inocência. Na hora, chorei muito.
Hoje eu respeito a justiça, mas não confio nela. Fui indenizado em US$ 7,5 milhões, mas até onde sei, nada aconteceu com os promotores.
Outro dia encontrei um dos dois caras que fizeram a delação premiada. Olhei para ele e disse: "Só saiba que eu te perdoei". Não quis me vingar dele. O que eu teria a ganhar com isso? Nada.
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