Estar repórter é lidar com o inesperado. A surpresa pode aparecer entre uma marcação e outra, com água que mina da rocha e sai de um cano no meio do caminho (entre o Varjão e o Paranoá, perto da prainha do Lago Norte). Tem surpresa melhor do que essa? Nós estávamos sedentos, sob aquele sol rachando, em meio à seca do Cerrado.
Eu fui a última. Primeiro observei (sei lá, vai que... né? rs). E não é que a água era geladinha e cristalina??? Uma benção em forma de líquido!
Havíamos terminado de fazer a matéria abaixo, que coincidentemente envolvia água: a limpeza do Lago Paranoá.
A surpresa pode vir também da propaganda de motel nos fundos do ônibus. Que tal?
Mas a mais recente das surpresas e que mais me marcou está no VT abaixo. A matéria era sobre um senhor que desapareceu do hospital para onde foi levado após cair no meio da rua. Fizemos a reportagem com as duas filhas do velhinho. Elas fizeram o apelo, atenderam ligações de gente dizendo ter visto o desaparecido... E encerramos. Agradecemos. Fui ao banheiro - coisa rara pra quem trabalha na rua, então aproveitei a oportunidade. Quando estou lá dentro ouço só os gritos. E o choro. Encontraram o pai delas... morto.
Fiquei sem ação. Por um momento de egoísmo pensei: por que não ligaram 3 minutos mais tarde, quando já não estaríamos mais lá? Que situação delicada, as filhas inconsoláveis.... E a gente ali, "sobrando." Mas quis o destino que fosse assim. O que fazer? Abracei e tentamos ajudar.... Conseguimos dar carona pras duas até a delegacia, onde reconheceram os documentos do pai. Elas saíram do local quando nós também deixávamos a DP. E demos carona de volta até a casa delas. Tenho uma certeza: fomos até lá pra poder ajudá-las nessa locomoção. Era tanta dor.... pelo menos com o transporte elas não precisaram se preocupar. Ficaram tão gratas e nós nada fizemos, além do mínimo possível e esperado para aquela situação. Tão humildes em todos os sentidos do termo que ainda pediam desculpas pelo choro e pelo "incômodo". Uma triste surpresa acompanhada de uma feliz constatação: dar é sempre melhor do que receber.